Floresta e serras de Aldeia do Bispo

Manuel Luiz Fernandes Gonçalves (Lei)

Portugal tem lindas serras : Gerês, Marão, Estrela, Gardunha, Arrábida, Malcata e muitas outras.
É grande a riqueza florestal de algumas e são muito belas no verão as frondosas e frescas matas do Buçaco e de Sintra.
Aldeia do Bispo está rodeada de altas e médias montanhas a nascente, sul e poente: Penha de França, Gata e Xalma (na vizinha Espanha), Cabeço Vermelho, Mesas, Barreiras, Malhão e Matança; sucedendo depois a Serra de Aldeia Velha e do Homem de Pedra. Essa cadeia de serrania morre nas imediações da freguesia de Rendo.
O manto vegetal das montanhas e serras espanholas já está protegido e a ser gerido em moldes científicos e vigiado por guardas florestais em alerta permanente. Reparem naqueles corta-fogos larguíssimos que os Nabafreños rasgaram e mantêm limpos, ali atrás do Cabeço Vermelho, vertente S/SW, nas imediações da Cruz do Pedro.

Do nosso lado, todavia há muito que fazer depois dos terríveis incêndios, ateados, pensa-se, que por mão criminosa nas décadas dos anos 80 e 90 do século passado, que introduziram alterações de monta na paisagem e nas espécies de vida selvagem destas paragens.
A extensa mancha de pinhal que cobria as encostas desde o Canchal Sobreira ao Vale Portinho; desde o Valongo à Fonte Barrancos e da Serra até ao Cabeço Vermelho terá sido dizimada pelos apetites de madeireiros, ao que se ouvia dizer então; muitos castanheiros morreram com as feridas devido à flagelação das chamas e da moléstia.
O carvalho (carvalho negral) foi a árvore que melhor resistiu a este flagelo incinerador, espécie que agora predomina como aliás no fim do século XIX, segundo informação de Joaquim Manuel Correia: “…No ano referido [1889] havia ali ainda abundância de lenhas de carvalho, sobretudo no Cabeço Vermelho… (in Terras de Riba Côa – Memórias sobre o concelho do Sabugal).
Ao pinheiro (predominante até á década dos 70) foi substituído pelo eucalipto, plantado no Malhão e nas Barreiras pela Celpinus com os seus inconvenientes. Na década 80 e sob o impulso da Junta de freguesia foi feita uma plantação de castanheiros (para madeira) nas áreas ardidas e em particular nas parcelas das Barreiras, Malhão e Matança.
Essa plantação já foi realizada com maquinaria moderna e não permitiu conservar a maior parte das delimitações (marcos) das parcelas.
Hoje, grande parte dos proprietários reside nas principais cidades do país ou emigrou, provocando o abandono e o amanho dessas terras.

Por falta de manutenção das terras, a mãe Natureza foi-se apoderando dos solos e agora denso matagal cobre a maior parte das parcelas, dificultando o crescimento das árvores ali plantadas.
A giesta branca ou amarela apoderou-se daquelas colinas.

Verifica-se que alguns prados e lameiros foram já também invadidos pelas giestas que abundam em todo o limite do nosso território.
De facto, muitos proprietários destas parcelas não têm a possibilidade de tratar delas e muitos mais desconhecem a sua localização. Foi nesse âmbito que foi criada a Associação AFLAB (Associação Florestal de Aldeia do Bispo).
A AFLAB tem por objecto promover o desenvolvimento e exploração florestal no limite de Aldeia do Bispo e em particular na denominada “Zona Colectiva Florestada”, localizada nas “Barreiras, Estrigueiras, Fonte Barrancos, Matança (Malhão) e Vale Portinho”.

Em 20 de Agosto de 2014, teve lugar a primeira assembleia-geral da AFLAB que elegeu os seus primeiros corpos gerentes.
Todos os proprietários de terrenos na Zona Colectiva Florestada são sócios efectivos, salvo se se manifestaram em contrário e procederem á identificação das suas propriedades, a expensas próprias.

Os direitos e deveres dos associados materializam-se através do voto, em função da permilagem detida da área total da zona florestada. 
A Direcção da AFLAB foi autorizada, por unanimidade, a delegar na Junta de Freguesia a administração do condomínio florestal, se assim o entender.
 Lembramos também que o castanheiro é uma das árvores mais valiosas do nosso país, porque, além das apreciadas castanhas, também nos fornece excelente madeira.

É grande a riqueza florestal das serras, não faltam nelas águas, tão puras e tão leves que dá gosto bebê-las.
São também as árvores que captam o carbono, libertando oxigénio, que contribuem para purificar o ar e precipitação pluviométrica.
Apetece respirar fundo, dilatar o peito e encher os pulmões daquele ar puríssimo.
Como são saudáveis os ares das serras!
Tratar delas, olhando cada qual pela nossa parcela ou um organismo adequado é tratar da nossa saúde!

Não as abandonemos.
Uma floresta limpa é boa (bom) para a saúde, para a economia, para o ambiente e para o turismo. Há que respeitá-la.

Aldeia do Bispo, Novembro de 2014

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