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Conhecer Aldeia do Bispo

Dizem que para compreender o presente é necessário conhecer o passado.
Esse passado (a História) nem sempre é fácil de deslindar por vários motivos e interesses divergentes daqueles que contribuíram para o (a) escrever.
Enquanto nos nossos dias o analfabetismo quase desapareceu nos países europeus, nem sempre foi assim.
Outrora, a maior parte dos eventos eram registados (lavrados) pelas pessoas (uma minoria) que sabiam ler e escrever, geralmente os clérigos e alguns nobres, quer dizer uma parte muito reduzida da população.

Essa história escrita contempla essencialmente grandes eventos que lhes convinham lembrar e muito pouco o dia a dia da maioria que se dedicava a lavoura.
Uma grande parte dos documentos que contemplavam dados e eventos importantes e menos foram-se perdendo com o tempo devido as guerras, incêndios, roubos e outras destruições que a tradição oral não conseguiu trazer para a luz dos nossos dias.
Mas nem sempre foi tudo escrito no papel, vejamos os sinais que muitos povos fixaram na pedra: montes de informações.
Também os nossos Antepassados deixaram pelas essas terras fora de Ribacôa e do país muitos sinais esculpidos na pedra que não vemos ou que não sabemos decifrar.
Na década 90 do século XX tive a oportunidade e o privilégio de seguir os passos do Reverendo Pe José Esteves Luís pelos caminhos e barrocos de Aldeia do Bispo.
Foi nessa caminhada que o livro das pedras de Aldeia do Bispo se abriu para mim graças a erudição desse ilustre Padre, conhecedor de todos os cantinhos da nossa Aldeia.
Tive o prazer imenso de ler nas pedras sinais dos nossos longínquos Antepassados e apreciar certos monumentos que chegaram até os nossos dias e que se encontram por vezes no meio de denso matagal.
Acontece que, desde essa inolvidável caminhada, não reparo para as pedras da mesma forma.
Tarefa árdua que tentar compreender a “linguagem” das pedras quando o nosso mestre já foi chamado para outras paragens.
Penso eu como alguns dos caminhantes desse dia que esse legado deve ser levado ao conhecimento da comunidade e preservado do vandalismo e modernismo.
Simbologia das pedras, recravas para suporte da estrutura da casa Lusitânia/Vetã, sepulturas escavadas na rocha, cruzinhas e covinhas (fôssetas) esculpidas nos barrocos ou em pedras soltas, santuários, etc.; todos esses “tesouros” me levam a crer que há necessidade de levar ao conhecimento dos filhos de Aldeia do Bispo residentes e não residentes como ás novas gerações a História destas terras cuja fronteira (Raia) foi sempre muito aleatória.
Vou tentar focalizar-me sobre certas épocas da nossa História em que de perto ou de longe Aldeia do Bispo esteve ligada a certos acontecimentos.

Advirto o leitor que não sou historiador, nem etnólogo e ainda menos arqueólogo; o trabalho apresentado é baseado nos autores clássicos e investigações próprias, quero somente fazer renascer e perpetuar a cultura das nossas gentes e das nossas terras.

HISTÓRIA

Aldeia do Bispo é uma antiquíssima povoação do concelho de SABUGAL, que dista cerca de 25 km, da capital do distrito GUARDA de 60 km e do posto fronteiriço e estação de caminho de ferro de VILAR FORMOSO, 45 km.

Pela sua situação geográfica (a 1,5 km da fronteira espanhola), foi sempre um ponto de passagem para a aldeia espanhola de NAVASFRÍAS (5 km) e também para as vilas de VALVERDE DEL FRESNO (16 km), CIUDAD RODRIGO (50 km) e a cidade de SALAMANCA (130 km). Estes laços com a vizinha Espanha, já são longínquos considerando que até 1296/1297 os territórios da margem direita do rio Côa e por conseguinte de Aldeia do Bispo eram pertença do Reino de Castela e Leão.

Fica distante 5 km da nascente do rio Côa.

No limite de Aldeia do Bispo, é, em parte, a ribeira da Raia (Ribeira do Codessal, segundo documento antigo de 1226) que divide as duas nações.
A aldeia é banhada pela Ribeira dos Munhos e seu afluente Ribeira do Poço que atravessa o centro da povoação e lhe dá um aspecto muito pitoresco, as suas águas escoam para a aldeia vizinha de Lageosa.
A ribeira do Codessal e dos Munhos vão desaguar no rio Rio ÁGUEDA (Rio de NAVASFRÍAS), cujas águas se juntarão no rio Douro.
A sul, prolongamento das serras espanholas da Peňa de Francia e Jalama (Xalma) e serras portuguesas das Barreiras, Cabeço Vermelho e das Mesas; a poente, Malhão e Matança.
A cobertura vegetal mudou muito após a praga dos incêndios florestais das décadas 70 e 80 do século XX, o pinho foi substituído pelo eucalipto e o carvalho negral apoderou-se da maior parte das terras.
A produção da castanha também diminuiu drasticamente por falta de tratamento e devido à doença da tinta.
Recentemente alguns soutos de castanheiros foram plantados.
Nas árvores frutíferas são abundantes as macieiras e marmeleiros.
Com a mudança do manto florestal e falta de exploração das terras, também a fauna procurou outros lugares: o lobo está extinguido desde a década 80 do século XX, a lebre e o coelho como a perdiz tornaram-se escassos. Só a raposa é que conseguiu adaptar-se a esta nova situação. Outros animais percorrem agora o limite de Aldeia do Bispo: corços e javalis (em grande quantidade).
Com paciência, também se pode observar o esquilo e denosinha.
As pegas azuis e aves de rapina investiram agora os céus límpidos desta freguesia.
Os seus limites confrontam com os da Lageosa, Aldeia Velha, Fóios e da espanhola Navasfrías.
A nível geológico, o granito de grão grosso domina a paisagem, excepto nas serras do Malhão e Matança onde predomina o xisto.
A altitude média da aldeia situa-se à cota de 930 m, o clima é continental com fortes amplitudes.
É difícil definir o aparecimento desta povoação, dado não haver documentos comprovativos. No entanto, os achados apontam para a existência de um povoado na época pré-histórica.
Também não conhecemos o nome primitivo de Aldeia do Bispo, o nome actual da freguesia aparece já no ano 1320. Podemos alvitrar a hipótese que o nome antigo fosse do desagrado da Igreja.
Aldeia do Bispo teve uma população importante até a década 50 do século XX, a partir de 1960 foi registado um grande despovoamento. Este êxodo, no início, rural, para Lisboa, Porto e Coimbra, acentuou-se depois para os países europeus: essencialmente para França.

Manuel Luiz Fernandes Gonçalves
Novembro 2013

BIBLIOGRAFIA
ALARCÃO Jorge
ESTRABÃO – Geografia (livros II , III e IV) les Belles Lettres
FERNANDES Hermínio Mariano (2012) – Aldeia do Bispo, das origens – edição do autor.
PIRES Célio Rolinho (Maio 2000) – O país das pedras – edição do autor.
TAVARES Adérito – A capeia arraiana
MARTÍN VISO Iňaki (2005) – En la periferia del sistema: Riba Côa entre antigüedad tardia y la alta edad media (siglos VI-XI) – Centro de Estúdios Ibéricos.
MARTÍN VISO Iňaki “Tremisses y potentes en el nordeste de Lusitânia (siglos VI-VII)”, Mélanges de la casa de Velázquez, 38-1 \ 2008, 175-200.

INDICE

PRE – HISTORIA
A simbologia das pedras
O vale do Côa
Arte rupestre no Vale do Côa e em Aldeia do Bispo
Os dólmenes de Ruivós

OS POVOS PRE ROMANOS
Iberos
Lusitanos
Vetões
A inscrição do Cabeço das Fráguas
As estelas de: Baraçal, Foios e Aldeia Velha.

O IMPERIO ROMANO
As guerras
Viriato
A Pax romana
A inscrição na ponte de ALCANTARA (Espanha)
As Villae de Vila Boa, Verdugal e Vila Fernando
A capital da região: IRUEÑA (Fuenteguinaldo)
As vias de comunicação: a estrela de ALFAIATES (Ponte Cipriano), VILAR MAIOR, a ruta da prata (puerto de Santa Clara)
Os marcos miliários 

SUEVOS E VISIGODOS
Parrochiale Suevum
A OCUPAÇAO MUÇULMANA
O legado mouro na irrigação e costumes
Alfaiates
O CONDADO PORTUCALENSE
A FUNDAÇÃO DA NACIONALIDADE – AFONSO HENRIQUES
A CRIAÇAO DO BISPADO DE CIUDAD RODRIGO
TRATADO DE ALCAÑICES – RIBACÖA PORTUGUESA

12 de Setembro de 1297 – assinatura do tratado de ALCAÑICES
A nova Raia
A ruta dos castelos
Caria Talaya
A OCUPAÇAO ESPANHOLA E RESTAURAÇÃO
Escaramuças
Incêndio de Aldeia do Bispo
AS GUERRAS PENINSULARES
A terceira invasão
Massena
Wellington
A batalha do Gravato
O CONTRABANDO
Minério, amêndoa, café
A DESERTIFICAÇAO
O êxodo rural
O surto migratório
O comboio Sud Express elo de ligação

PATRIMÓNIO
Património edificado
Campanário (1868)
Fonte de mergulho
Chafarizes (3)

Património religioso
Igreja matriz – de Santo Antão – século XVII
Igreja de São Gregório – século XVIII
Santuário lusitano (Vale João Fernandes)

Património arqueológico e etnográfico
Sepulturas antropomórfica
Machado pré histórico  – Museu Lisboa
Moinhos de água
Pontão do Valongo

Património natural e lazer
Miradouro na serra da Matança
Percursos pedestres sinalizados com tabuletas e marcos em granito (Rota do Malhão)
Cedro no adro das escolas
Carvalho quadricentenário
Pinho no lugar dos Carrasqueiros
Penedo (barroco) oscilante no lugar de Resprados/Golricha
Pedras cavaleiras

Património imaterial
Capeia arraiana com forcão

TRADIÇÕES
Festas :
Nossa Senhora dos Milagres
Santo Antão
São João
São Martinho
Entrudo (Carnaval)

Gastronomia
Enchidos
Fabricação de mel
Especialidades: Chanfraina, chanfana, cabrito

Actividades económicas
Pastorícia
Tecelagem
Turismo rural

ASSOCIATIVISMO