Rota do Malhão

No seu inicio, começamos por utilizar antigos caminhos que serviam à população local nas rotinas diárias ligadas aos trabalhos do campo : ir às hortas ou aos chões das Fontainhas, ir buscar as vacas aos lameiros do Vale Longo, do Vale Portinho…
O coberto vegetal é de características diversas dependendo da sua orientação geográfica. Das várias espécies podemos destacar os pinhais, os  diversos nucleos de carvalhos, a giesta branca, amarela, a canaveira, a tamogeira, a carqueja e o sargaço.

O caminho é agora quase plano; na direita, junto à parede em pedra solta, ziguezagueia caleira de cimento que
traz água para regas.
A esquerda, bordejam terrenos em declive acentuado onde predominam moitas de reboleiros. Seguem-se lameiros a escoar até à margem da Ribeira dos Munhos, que os amieiros quase furtam ao olhar curioso de quem passa.
Ao fundo do lameiro prende o nosso olhar a vetustez de duas construções com paramento granítico em muito razoável estado de conservação : são os moínhos dos Munhos que por mais de uma centúria, o cereal em farinha tornaram.

À nossa esquerda desce a ribeira dos Munhos, de água límpida, cantante de pedra em pedra e muito leve.
Interrompe-lhe a cantoria, o açude que força as águas até à caleira que desce para os campos de renovo até ao Ribeirinho.
À direita é o barrocal coberto de  acerosas tamojeiras e pinheiros que exsudam aromas acre-resinosos. Pelas duas bermas do caminho há regos e regatos que o cruzam ou, sob
lascas em pontão, o atravessam de uma para a outra borda. Caminho e ribeira começam, por aqui, a afastar-se a pouco e pouco.

Na mão direita, extenso barrocal. Neste, cerca de 300 metros para Nor-Nordeste , divisou o autor Célio Rolinho Pires um Santuário das Pedras Sagradas com o duólito serpente-lagarto por centro.
Volve-se ao caminho desta Rota do Malhão, com a vertente matancina a Poente em fundo rasgado pelo gigantismo das torres aerogeradoras. O trajecto vai por caminho plano; predomina o barrocal na direita; à esquerda, espraia-se a vista por lameiros que se estendem até à ribeira, com moitas de reboleiros, ou já carvalhos de maior porte, pinhos, erva braceja e fieitos.

Assim se caminha uns 800 metros até ir dar-se ao entroncamento de duas direcções: pela esquerda, desce quelhe para a ribeira e além Vale Longo fora. Baixa-se e chega-se à Ribeira do Vale Longo, que se atravessa a vau ou por cima das lascas xistosas, restos de pontão que em tempos foi passagem segura para gados e pessoas. Depois
de regresso ao caminho principal.
Em frente, avança-se para Malhão/Matança. Após leve subida, por caminho que o mato vai conquistando, a direita avista-se lomba com espesso e intruso eucalipto.
Na altitude de 1102m atingiu-se o segundo ponto mais elevado da caminhada : Malhão, assinalado por mesa de orientação aqui implantada em 2007.

À vista desarmada alcançamos horizontes tão distantes como Serra Penha de França; Gata; Xalma a Nascente com Aldeia do Bispo mais cá; Aldeia Velha a NE; Soito para NO; Foios a Poente; Cabeço Vermelho e Serra das Mesas a SO.
Sargaço amarelo e branco; giesta negral e branca, mais canaveira de cepa tecem o variegado manto que protege esta colina xistosa dos agentes erosivos.

 

Sai-se da Mesa de Orientação no sentido OésSudoeste por caminho de terra fosca remoinhando com pó finíssimo que tudo penetra; o xisto predomina.
À esquerda giestal misto, canaveiras e sargaço com pinhal e eucaliptal mais abaixo. Desce-se e vem-se ao cruzamento da estrada Aldeia do Bispo “Foios com a rodeira Matança” Cabeço Vermelho. A indicar direcções e aldeias da zona, destaca-se miliário na berma à direita da estrada.
Andados metros escassos em estrada plana, uma tabuleta indica Cabeço Vermelho / Barreiras, ataca-se subida íngreme e penosa que leva ao Cabeço Vermelho. Piso de cascalho; na mão esquerda eucaliptal; giestas e reboleiros à direita; este troço da caminhada apresenta-se entre os mais difíceis, todo ele íngreme até ao Marco Geodésico – altitude 1126 metros.

A progressão é agora facilitada por caminhos e atalhos atapetados de erva; nas laterais há carvalhos, castanheiros e pinheiros. Caminhada sempre em descenso vai por rodeiras, veredas e clareiras até às Alagoas.
Duas ou três centenas de metros para Noroeste, ficam os olhos de água da Ribeira das Alagoas ou da Raia que Afonso IX em 10 de Outubro de 1226 consagrou sob o nome de Ribeira do Codesal .
Uns escassos 20 metros à frente chegamos à Fonte das Alagoas que alimenta a ribeira homónima, ou das Tapadas, ou do Vale Salgueiro, ou do Prado Castelhano, ou da Maria Gil – Ribeira do Codesal nos
documentos oficiais.
À direita, do caminho até às margens da Ribeira do Codesal estendem-se belgas ferteis na produção de batata, milho, feijão e abóbora. Na esquerda, agiganta-se o Cabeço ao Canchal da Vereda em carambola de barrocos.
Sempre por caminho plano e bem desimpedido, desemboca-se na estrada Aldeia do Bispo – Navas Frias.
Toma-se a direcção Norte que leva a Aldeia do Bispo.

Por fragas e pragas
… ou instantâneos de uma vida ao ar livre.
blog de José Carlos Calixto

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