Forcão
Chegádos a meados de julho, é a altura de realizar a segunda etapa da construção do forcão seguindo as regras transmitidas ao longo do tempo.
A madeira lá está à espera de ser tranformada em forcão.
Segundo o pessoal de experiência nas pegas ao forcão, o lapso de tempo ideal entre o descasque da madeira e a utilização do forcão é de três semanas. Só assim se obtém um secagem em condições para que o forcão ofereça a resistência e o peso ideais no dia da capeia. Arranjado com mais antecedência, a madeira seca demais e perde resistência, se for feito mais tarde, fica mais pesado e mais dificil de manobar
Os primeiros a entrar em acção são os descascadores, estadulhos, galhas e pau de pinho, são postos a nu e à disposição dos carpinteiros que os vão passando em revista para determinar o destino e a função de cada um.
Nestes preparativos há um pequeno pormenor que também tem a sua importância : a escolha e o aparo dos tornos para o rabiche. Para bater certo é preciso ter olho na escolha por forma a respeitar os requezitos de comprimento e sobretudo de espessura do trado para que fiquem bem cravados no final da galha do meio.
Na confecção do forcão, um dos aspectos mais importantes reside no afastamento das pontas das galhas quer a nível horizontal quer a nível vertical. Para isso é necessário conciliar a forma do estadulho com o seu comprimento determinando assim o ponto de apoio no pau da galha lateral.
Todos estes acertos têm uma única preocupação : nunca se esquece a utilização final :
criar uma estrutura que seja o mais funcional possível, sabendo que daí depende a integridade da rapaziada e o resultado do confronto com o touro.
Nestas coisas de lides de touros, um pequeno pormenor pode vir a ter consequências importantes.
Cada uma das duas galhas é onstituida por doze estadulhos dispostos em igual numero de um e de outro lado do pau de pinho. E contra estas galhas que o touro investe maioritáriamente e é a sua boa configuração que vai permitir aos jovens evitar que o touro passe por baixo, por cima ou para trás!
Porque essas situações de ter de largar o forcão no meio da praça, nunca ficam bem!
Em tempos, havia rapazes que, na altura de esperar o “grande” se atavam ao forcão para mostrar a determinação com que pegavam ao forcão.
Nesses tempos, tambem o forcão apresentava um aspecto diferente do de hoje. Isto porque não era fácil cortar a lenha para o forcão dada a utilização dos reboleiros e outros paus de carvalho no fabrico de alfaias agricolas (carros de bois, cabeçais de arado, jugos, e outros “rabos” de malhetas…
Por isso o forcão era de aspecto mais rústico, menos regular e até mais leve porque a madeira não tinha tempo de crescer.
O forcão é constituido por quatro zonas bem distintas :
O rabiche – com os dois tornos cravados, serve de leme com o qual se orienta a movimentação da estrutura e se determina a inclinação com que é apresentada ao touro, sendo recomendado a maior inclinação possível para que o boi veja mais uma muralha do que um simples obstáculo que importa ultrapassar ou por baixo ou por cima. Daí, que os rabejadores (um ou dois) sejam recrutados por entre a malta mais alta, para conseguirem que a galha do meio aponte em permanência pra a cabeça do touro.
Os lados (esquerdo e direito) são eles que vão permitir a execução das manobras laterais com passos cadensados para evitar de pisar os companheiros. Regra geral
participam de cada lado uma duzia de rapazes com a perna ou ombro bem encostados à madeira para reduzir a violência do choque o que não impede que durante alguns dias persista o negraz a testemunhar da força do embate.
As galhas constituem a posição estratégica que vai condicionar a qualidade da espera do touro : rodando com agilidade para não deixar o touro dar a volta ao pau de pinho, posicionando, no momento certo, o forcão mais ou menos alto para evitar que o touro salte ou apoiando com todo o peso do corpo para que o touro não passe por baixo da galha.
Touro que meta a cabeça por baixo, já não há peso que lhe possa resistir.
O meio do forcão constitui a mais recente evolução no modo de pegar ao forcão. Há uns anos atrás ninguém se punha no meio do forcão.
Hoje em dia, é aí que se concentra a força para resistir à marrada do touro na galha.
Ficam assim as tarefas mais repartidas entre quem orienta e quem resiste, ficando bem claro que a arte de pegar ao forcão reside num aspecto fundamental : a solidariedade de todos, qualquer que seja a situação que se possa vir a apresentar.
Nestas aventuras, a segurança de cada um está no desempenho dos outros participantes, sabendo que podemos ajudar e que também seremos ajudados.
Terminados os preparativos o forcão vai continuar a secar ao sol, sendo necessário ser molhado todos os dias.
O último preparativo consiste no atar as galhas ao pau de pinho com uma corda consolidando a rigidez da estrutura.